Juntos há 11 anos, Scott Stewart e Daniel Santiago formam, com o filho Benjamin, de 5 anos, uma família integrada à comunidade de 3 mil habitantes de Corwall-on-Hudson, no norte do estado de Nova York. Scott é funcionário da multinacional Procter & Gamble, e Daniel, servidor do Judiciário. A vida seria absolutamente normal, se eles não fossem um casal gay, e, por isso, obrigados a uma gincana burocrática para assegurar direitos. Scott e Daniel são alguns dos milhares de residentes de Nova York que torcem pela aprovação da legalização do casamento gay no estado, uma batalha que enfrenta seus momentos finais - ao menos nesta sessão legislativa - até a próxima segunda, dia 20, informa reportagem da correspondente Fernanda Godoy.
- Esperamos no futuro não ter de enfrentar tantos problemas legais. Tivemos que fazer testamentos detalhados e documentos para garantir o acesso do outro ao hospital se um estiver internado - diz Scott.
- As pessoas estão prontas para aceitar essa mudança. É surpreendente que a legalização ainda não tenha acontecido em Nova York - completa Daniel.
Apesar do apoio da maioria da opinião pública, a proposta só conta até agora com os votos declarados de 26 senadores estaduais. Faltam seis votos para a maioria de 32. Para evitar uma derrota como a de 2009, o governador de Nova York, o democrata Mario Cuomo, decidiu só enviar o projeto de lei à votação quando a maioria estiver assegurada. Cuomo, eleito em 2010 com a promessa de assinar a lei, se diz "cautelosamente otimista".
Voluntária compara causa a direitos civis dos anos 60
O alvo principal da campanha são seis senadores considerados suscetíveis a mudar de lado, entre eles dois democratas. É nos redutos deles (o voto é distrital) que a campanha se concentra, mas não há flash mob, e sim flash dial: ligações conectando o eleitor na rua com o gabinete de seu senador, por meio do celular de voluntários.
- O tempo das grandes manifestações de rua já passou. Agora temos um trabalho de horas a fio batendo de porta em porta ou pendurados no telefone. Não é mais aquela empolgação de ficar gritando palavras de ordem na rua - diz Cathy Marino-Thomas, da ONG Marriage Equality.
A campanha pelo casamento homossexual, unificada como nunca na história do movimento gay em Nova York, é coordenada pela aliança New Yorkers United for Marriage, que congrega diversas ONGs do movimento gay. Cerca de mil voluntários trabalham contra o relógio para virar os votos dos seis senadores que podem garantir a aprovação da lei. Julia Benjamin é uma das que dedicam ao menos duas noites por semana para pedir aos eleitores de Nova York que pressionem seu representante no Parlamento estadual a votar a favor do casamento gay.
- Cresci ouvindo histórias do movimento pelos direitos civis dos anos 60. Daqui a algum tempo, vamos olhar para trás e ver como é ridículo que homossexuais não possam se casar, assim como parece absurdo que naquela época um negro não pudesse se casar com uma branca - diz Julia, de 28 anos.
As pesquisas apontam que entre 52% a 58% dos nova-iorquinos apoiam o casamento gay. Todo o foco agora está em virar os poucos votos necessários para a mudança na legislação. Nova York seria o sexto estado americano a permitir o casamento homossexual, além do Distrito de Columbia, a capital federal.
A coalizão tem levado ao ar uma campanha de TV estrelada por figuras célebres da cidade, como Anna Wintour, editora da revista "Vogue" (que inspirou o filme "O diabo veste Prada"), o chef Mario Battali, e atletas, todos heterossexuais que apoiam o casamento gay.
Alteração em lei federal esbarra em republicanos
Caso a lei seja aprovada, os homossexuais terão assegurados alguns direitos de herança, e o direito de tomar decisões médicas em nome do cônjuge. Outros direitos importantes, como o de imigração e o de recebimento de benefícios da Previdência Social, continuarão fora de alcance, porque dizem respeito à legislação federal - e as certidões de casamento são estaduais.

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